Capítulo
VII – Meditação
“Para aquele que tem lhe será dado... ame o Senhor teu
Deus com todo o teu coração... ame o teu próximo como a ti mesmo. Eu e meu Pai
somos um”: estes são importantes princípios para qualquer aspirante no caminho
espiritual. Mas como esses princípios podem ser realizados? Uma coisa é afirmar
o que é, e outra coisa é alcançá-lo ou realizá-lo. Admitindo-se que há este
Jesus falou, este Cristo através do qual podemos fazer todas as coisas então, como
é que vamos conseguir individualmente a experiência do Cristo, isto é, como é
que vamos trazer essa presença divina para nossos afazeres? Esse é o ponto importante.
No Caminho Infinito, é enfatizado o velho tema da
meditação e comunhão interior, a prática que capacita uma pessoa para estar
separada – quer ela se sinta reverente em uma Igreja, quer ela se retire para
algum canto tranquilo em sua própria casa, ou esteja se aquecendo sob a luz do
sol em um jardim - e, esquecendo-se das coisas deste mundo, para se voltar para
dentro e fazer contato com a sua força interior, com aquilo que nós chamamos de
Deus, o Pai, o Cristo.
A experiência de
Cristo é uma possibilidade presente, o
caminho para essa experiência é a meditação.
Muitos aspirantes ao caminho de vida espiritual conhecem a
letra da verdade e estão satisfeitos em parar aí. “Eu e meu Pai somos um” é a
letra correta da verdade. Será que repetir estas palavras ou obter um
conhecimento intelectual delas nos ajuda de alguma forma? Com que frequência
nós dizemos: “Eu sou o filho perfeito de Deus; Eu sou espiritual; Eu sou
divino”; e depois descobrimos que estamos tão pobres como éramos antes, ou
apenas como muita dificuldade. Estas são somente declarações. É semelhante a
sentarmos em um quarto escuro e repetirmos e repetirmos, “Eletricidade dê luz”.
Essa é uma afirmação correta, mas ainda você está sentado no escuro, até que,
ao ligar o interruptor, a conexão é feita com a fonte da eletricidade. Assim,
nada vai acontecer conosco, independentemente de quantas afirmações da verdade
conhecemos ou repetimos, a menos que alcancemos a consciência dessa verdade e
percebamos nossa união com a nossa fonte. A meditação é esse
caminho.
O reino de Deus está dentro de nós; o lugar onde estamos é
chão sagrado. Onde quer que nós estejamos Deus está, na Igreja ou fora dela. O
mestre diz, “Nem nas montanhas e nem em Jerusalém vós deveis adorar o Pai”.
Deus não é encontrado em lugares; Deus é encontrado na consciência. Deus está
onde nós estamos porque “Eu e meu Pai somos um”. Nós não podemos escapar de
Deus.
Para onde me irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da
tua face?
Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha
cama, eis que tu ali estás também.
Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do
mar.
Até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá. (Salmo
139:7-10).
Onde nós estamos, Deus
está; onde Deus está, nós estamos porque nós somos um, inseparável e
indivisível:
Eu nunca o
deixarei, nem o desampararei. Eu nunca o deixarei, nem o desampararei onde quer
que você esteja ou que quer que você seja - hindu, judeu, cristão, muçulmano,
ateu. É minha natureza ser o verdadeiro coração e
alma do seu ser. Nem suas tolices nem os seus pecados podem ficar entre você
e eu. Você pode se separar temporariamente de mim, isto é, você pode pensar que
você se separou de mim, e você certamente pode se separar do benefício da minha
Presença, mas isso não significa que eu deixei você. Você vai descobrir que a qualquer momento, dia ou noite,
se você fizer a sua cama no inferno ou no céu, se você andar pelo vale da sombra
e da morte, a qualquer momento que você desejar, você pode virar-se e encontrar
que eu estou andando ao seu lado. Eu sou os braços eternos que amparam você. Eu
sou a nuvem durante o dia e a coluna de
fogo durante a noite. Eu sou aquele que prepara uma mesa
diante de você no deserto. Se estiver com fome, eu sou os corvos que vêm lhe
trazer comida. Eu sou a viúva compartilhando um pouco de bolo e uma botija de
azeite. Eu nunca deixarei você. Eu serei o maná para você em sua experiência do
deserto. Eu serei Aquele o qual abre o mar Vermelho para você se nenhum outro caminho
for aberto. Eu Sou o que Eu Sou sempre e para sempre. Eu tenho sido e
serei Aquele até a eternidade, pois Eu estou no meio de
vós. Aonde quer que fores, Eu irei. (meditação
espontânea do autor).
Deus não é encontrado acima no céu – nem em peregrinações,
lugares ou pessoas. Deus é encontrado dentro de nós. O momento em que podemos concordar
interiormente que isso é verdade, temos feito metade da jornada da nossa vida
em direção à experiência do céu na terra, a outra metade permanece. Agora sabemos onde o
reino de Deus está, mas como é que vamos alcançar a realização dele? Homens e mulheres que procuraram o Santo Graal, o símbolo
do reino de Deus, gastaram a vida
inteira unicamente para descobrir que foi um erro buscar fora aquilo que já
estava dentro deles. Eles retornaram de sua busca esgotados fisicamente,
financeiramente e mentalmente, desanimados pelo fracasso de sua missão. Então,
de repente, eles olharam em volta e encontraram o cálice dourado pendurado na
árvore, ou ouviram o pássaro azul cantarolando sua mensagem de alegria –
exatamente em sua própria casa todo o tempo. Isso é o que acontece quando chegamos à
percepção que o reino de Deus está dentro de nós. Metade da jornada está então
concluída.
Centenas de livros foram escritos sobre este assunto, mas
aqueles que foram escritos das profundezas da experiência, todos concordam que
a presença de Deus só pode ser realizada quando os sentidos são silenciados,
quando nos estabelecemos em uma atmosfera de expectativa, de esperança e de fé.
Neste estado de relaxamento e paz nós esperamos. Isto é tudo que podemos fazer;
apenas esperar. Não podemos trazer Deus para nós, visto que Deus já está aqui,
nesse silêncio interior, nessa quietude e confiança.
A meditação é um convite para que Deus fale conosco ou
para fazer-Se conhecido por nós; não é uma tentativa para alcançar Deus, uma
vez que Deus é onipresente. A Presença já está. A Presença sempre está, na
doença, na saúde, na falta ou na abundância, no pecado ou na pureza; a Presença
de Deus sempre está e já está. Nós não estamos
tentando alcançar Deus, mas sim alcançar um estado de quietude que a
consciência da presença de Deus nos permeia.
Fomos treinados a orar com a nossa mente pensante, como
se Deus pudesse ser alcançado por meio do pensamento. Deus nunca pode ser
alcançado com ou através do pensamento.
Ninguém pode chegar a Deus com a mente, ninguém pode
chegar a Deus com o pensamento consciente: Deus só pode ser alcançado
através de um estado receptivo de consciência. nunca saberemos quando Deus falará conosco, mas disto
podemos estar certos: se vivermos em meditação, mantendo períodos suficientes
para termos nosso contato com a Presença, nós estaremos sob o governo de Deus,
e a qualquer momento em que houver uma necessidade, Deus falará conosco.
É dentro de nós que o contato deve ser feito. Até isso ter
sido feito (1º contato com Deus), o Espirito de Deus no homem é meramente uma
promessa; o Cristo é apenas uma palavra ou termo. Deve se tornar uma
experiência, mas até que se torne uma experiência, uma questão pode muito bem
ser levantada: Existe um espírito dentro do homem? O Cristo é real?
“Interioridade” é o segredo.
Séculos e séculos procurando o nosso bem no jardim de
outra pessoa, pensando que o nosso bem possa vir a nós pela força e pelo poder
ou pelo suor do nosso rosto, têm nos separado das profundezas desta
“interioridade”, de modo que é como se houvesse um grande muro entre nós e o
Cristo. É
preciso constantes investidas interiores para rasgarmos o véu da ilusão. Quão
rapidamente vamos rasgar o véu da ilusão, não tem relação com a nossa bondade
humana ou com a profundidade de nossos pecados: tem relação apenas com a profundidade
do nosso desejo de fazer o contato. Quando fazemos esse contato não
somente os nossos pecados são perdoados como também são curados. Não é uma questão da pessoa ter que
primeiro se tornar boa para depois estar debaixo da Graça de Deus. Não, isso
opera em ordem inversa: deixe a Graça de Deus tocar uma pessoa e ela se tornará
boa. O Espírito interior mudará a vida exterior, a graça interior aparecerá
exteriormente.
Se persistirmos na
percepção: “O
reino de Deus está dentro de mim; o lugar onde eu estou é chão sagrado; Filho
tu está sempre Comigo e tudo que Eu tenho é teu”; e se recordarmos isso duas ou
três vezes por dia, um destes dias algo acontece a nós: uma experiência toma
lugar – pode ser uma sensação de calor; um sentimento de libertação; pode ser
uma voz no ouvido; mas é algo que acontece dentro de nós e nós sabemos que
tivemos a visita do Cristo. Então nós compreenderemos que tivemos a experiência
da anunciação e a concepção do Cristo; O Cristo em nós é despertado e daí em
diante nós seremos capazes de dizer:
“Eu posso todas as coisas através do Cristo”, não através
da minha sabedoria, nem através dos meus músculos, nem porque eu conheço muitas
palavras e tenho lido muitos livros; mas através do Cristo, eu posso todas as coisas.
O Cristo dentro de mim me fortalece; o Cristo dentro de mim vai antes de mim
para tornar os caminhos tortos em retos. (meditação
espontânea do autor).
Isto não será mais uma série de citações: isto será uma
experiência.
Esta experiência interior transformará a substância de
nossa experiência exterior. O
Cristo pode se derramar da nossa boca como uma mensagem, da nossa casa como a
felicidade, do nosso negócio como sucesso, mas ele deve ser
um Cristo realizado (percebido), um Cristo ressuscitado,
deve ser um Cristo sentido na consciência. Ele deve nos tocar, deve nos
aquecer, nos
iluminar.
Então, podemos
descansar, mas não por muito tempo, porque o magnetismo do mundo se impõe sobre
nós, e seis horas mais tarde, as manchetes dos jornais sensacionalistas e
notícias de rádio colidem com a nossa consciência, e o Cristo “começa a
escorregar para segundo plano”. Assim aprendemos a nos sentar novamente e
renovar a nós mesmos, preenchendo-nos com a realização desta presença do
Cristo, e seis horas mais tarde, repetimos isto novamente.
Dia virá quando esta percepção do Cristo é praticada de hora em hora, e finalmente
esta prática se torna desnecessária porque neste estágio o Cristo assume e vive
a nossa vida, e nenhum esforço adicional de consciência é necessário. Mas antes que
este estágio de desenvolvimento seja alcançado, o esforço consciente é
necessário para alcançar aquele mente “que também estava em Cristo Jesus”; e
este esforço consciente requer hora após hora de meditação e contemplação. É
nestas horas de meditação e contemplação que nós nos abrimos para o Cristo.
Palavras se tornam desnecessárias; pensamentos se
tornam desnecessários. Os pensamentos agora chegam até nós de “dentro”. A
Palavra de Deus é falada para nós, proferida dentro de nós. Já não estamos
expressando palavras, mas a Palavra.
Quão profundo é o nosso
desejo para a realização de Deus? Como podemos medir a
profundidade de nosso amor por Deus? A resposta é muito simples: quanto tempo e
atenção estamos dispostos a conceder para nos sentarmos em silêncio até que
sintamos a presença de Deus? Isto determina quanto amor por Deus nós temos. Se não tivermos tempo, se não tivermos paciência, se não
tivermos vontade de dar todo o nosso coração, alma e mente para a realização
desta presença de Cristo, não temos amor suficiente por Deus. É semelhante a
ter uma mãe vivendo num local distante. Quanto estamos dispostos a lutar,
quanto estamos dispostos a fazer um sacrifício para obter o dinheiro necessário
para visitá-la ou enviá-lo para prover o seu conforto? Isso determinará o
quanto de amor que temos. Devemos usar igual medida na determinação de nosso
amor por Deus. Quanto estamos dispostos a sacrificar tempo ou esforço para a
leitura, estudo, ou o que for necessário para despertar esse “adormecido, invisível”
Cristo? Essa é a medida do nosso amor.
Quando chegamos ao lugar onde temos nada menos que quatro períodos de
meditação por dia, estamos começando a obedecer à ordem de Paulo para "orar
sem cessar". Os místicos revelaram que na tranquilidade e na confiança
está
a nossa força. Na tranquilidade e na confiança encontramos Deus, não
em um culto exterior.
Jesus foi a um passo além e nos falou que devemos orar em
segredo: devemos entrar no santuário interior, fechar a porta, e orar onde os
homens não possam nos ver. Quando estamos sozinhos, há uma oportunidade para
algo acontecer que nunca poderá acontecer em público. Por quê? Porque quando estamos
em público o ego está exposto. Nós não podemos ser nós mesmos, mesmo na
presença daqueles que amamos. Qualquer coisa que tende a expor o ego destrói
nossa integridade espiritual. Quanto mais secreto e sagrado
mantermos nosso relacionamento com Deus, nunca expondo
este relacionamento abertamente, mais poder haverá nele.
O ego deve ser destruído
para abrir caminho para o EU, a nossa “Identidade Crística”. Como seres humanos, temos uma individualidade própria que
gostamos de glorificar. Todo o ensinamento de Jesus foi a destruição do ego pessoal:
"As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que permanece
em mim é Quem faz as obras ... A minha doutrina não é minha, mas Daquele que me
enviou”. Ele superou seu ego e deixou um modelo para seguirmos: Ore em segredo.
Ele foi ainda mais longe e disse: "Quando deres esmola, não deixe que a
tua mão esquerda saiba o que a tua mão direita faz... e o Pai que vê em secreto
te recompensará abertamente”. Cada vez que tornamos nossos atos benevolentes e
caridosos um assunto de notícia pública, cada vez que oramos em público para
sermos vistos pelos os homens, cada vez que expressamos as nossas convicções
religiosas em público, estamos glorificando o nosso próprio ego, tentando
manifestar o quanto fazemos ou o quanto sabemos. Esquecemo-nos de que o nosso
Pai, que vê em secreto, ele mesmo deve nos recompensar abertamente.
Há um grande mistério
espiritual em tudo isto. É uma coisa muito estranha que, quanto mais perto nos
aproximarmos de Deus, e mantermos tudo isto trancado dentro de nós mesmos,
maior é o nosso desenvolvimento espiritual.
Quando tudo isso for um profundo segredo dentro de nós, Deus tem sua própria maneira
de tornar conhecido exteriormente (o que fazemos e a nossa relação com Ele)
para aqueles que podem ter algum interesse em saber sobre nossas benevolências
ou nosso relacionamento com Deus.
O segredo da meditação é o silêncio: nem repetições, nem
afirmações e nem negações – apenas o reconhecimento da totalidade de Deus, e
então, o profundo silêncio o qual anuncia a Presença de Deus. Quanto mais profundo for o silêncio mais poderosa é a
meditação. As coisas que são santas, mantemos santas;
mantemos em segredo e em sagrado. Não há nada de natureza sagrada que nós
precisamos compartilhar com alguém. Todo mundo é livre para procurar Deus à sua
própria maneira e deve-se fazer um esforço para encontrar Aquele o qual ele
está buscando. Não há ocasião para compartilhar as coisas mais profundas, para
compartilhar as coisas mais sagradas na nossa relação com Deus, porque cada um
é livre para ir e fazer o mesmo. As coisas profundas e as coisas sagradas devem
ser escondidas dentro de nossa própria consciência. Quanto mais mantermos em
segredo e sagrado este relacionamento, maior é o poder.
Contínua meditação, contínua busca em direção ao centro do
nosso ser, eventualmente, resultará na experiência do Cristo. Neste momento,
descobrimos o mistério da vida espiritual: nós não teremos que pensar no que
vamos comer ou beber ou vestir, não teremos que planejar, nem que lutar. Só
Cristo pode viver a nossa vida por nós, e encontramos o Cristo dentro de nós
mesmos em meditação. O grau em que nós atingimos a experiência ou atividade de
Cristo, a presença do Espírito de Deus em nós, determina o grau do desabrochar
individual.
Quando, através da meditação, alcançarmos esta realização
do Espírito de Deus, e permanecermos nela, retirando-nos para o centro do nosso
ser, dia após dia, para que nunca dermos um passo sem a sua garantia interior,
a atividade do
Cristo nos alimenta, nos supre, nos enriquece, nos cura, e
traz para nós a plenitude da vida. Então, com certeza, saberemos, "Eu vim para que todos tenham vida, e para que a
tenham em abundância".
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