C A P Í T U L O V I I I
A cura metafísica
As curas sempre ocorrem na medida de nossa compreensão da verdade sobre
Deus, sobre o homem, a ideia e o corpo. A cura nada tem a ver com alguém "externo" chamado
de paciente. Quando alguém pede uma ajuda ou cura espiritual, termina aí o
papel que desempenhava, até que nos alerte de sua chamada "cura". Nós
não nos preocupamos com o assim chamado "paciente", com sua
solicitação, com a causa da doença ou com sua natureza, nem com seus pecados ou
medos. Estamos apenas interessados na verdade do ser — a verdade de Deus, do
homem, da ideia e do corpo. A atividade desta verdade em nossa consciência é o
Cristo, o Salvador, ou a influência curadora.
O fracasso na cura resulta de grande falta de
compreensão da verdade sobre Deus, o homem, a ideia e o corpo, e estas noções
erradas têm sua origem principalmente nas crenças religiosas ortodoxas, ainda
arraigadas em nosso pensamento. Só poucos se apercebem de quanto foram cegos pela ortodoxia
supersticiosa.
Só há uma resposta à pergunta crucial
"Que é Deus?", e a resposta é: "EU SOU". Deus é a mente e a
vida do indivíduo. Qualquer defesa mental ou reserva íntima do indivíduo
resultará certamente em fracasso. Existe
apenas um EU universal, quer seja dito por Jesus Cristo ou por um João qualquer.
Quando Jesus disse "Aquele que vê a mim,
vê Aquele que me enviou", revelou uma verdade ou princípio universal. E
isto é insofismável. Ou entendemos esta verdade ou não a entendemos —
e se você não a entendeu, não precisa nem
procurar outras razões para o fracasso na cura. A revelação de Jesus Cristo é clara.
"Eu sou o caminho, a verdade e a vida." Se você não puder aceitar isso
como um princípio e, por isso, como a verdade sobre você mesmo e sobre os
demais indivíduos, não terá o alicerce sobre o qual se apoiar. A verdade é que Deus é a mente e a vida do indivíduo.
Deus é o único EU.
A seguir
surge a questão, "Que é o
homem?", e a resposta é que o homem é ideia, corpo, manifestação.
Meu corpo é ideia, ou manifestação. E assim também meu negócio, meu lar e
minhas posses, existem como ideia, como manifestação ou expressão. Por essa, e
não por outra razão, meu corpo é a exata imagem e semelhança de minha
consciência e reflete, ou exprime, as qualidades, o caráter e a natureza de
minha própria consciência de ser.
Chegados pois a este ponto, entendemos que Eu
sou Deus, que Deus é a mente e a vida do indivíduo, que o corpo existe como ideia
de Deus. Deus, ou o EU SOU, é universal, infinito, onipotente e onipresente;
por isso, a ideia de corpo é igualmente indestrutível, imperecível e eterna. Nunca
nasceu e nunca morrerá. Nunca serei privado da percepção consciente de meu
corpo e, por isso, nunca estarei sem meu corpo.
Quando olhamos para o mundo com nossos olhos,
não vemos nosso corpo, não vemos esta ideia divina e infinita chamada corpo: o
que vemos é um conceito, mais ou menos universal, desta ideia. Quando vemos um
corpo saudável, uma bela flor ou árvore, estamos vendo um conceito bom da ideia
de corpo, árvore ou flor. Quando vemos um corpo envelhecido e adoentado, uma
flor murcha ou uma árvore seca, estamos vendo um conceito errôneo da ideia
divina. Quando melhoramos nosso conceito
de ideia, de corpo ou manifestação, chamamos esta concepção melhorada de cura. Na realidade, nada aconteceu ao tal
paciente, ou ao seu corpo — a mudança ocorreu apenas na consciência do
indivíduo, e se tornou visível como crença melhorada, ou cura. Por esta razão,
apenas o curador deve aceitar sozinho a responsabilidade da cura e nunca tentar
repassar a culpa do fracasso para a pessoa que lhe pediu ajuda. Pois todo
indivíduo é EU SOU, Vida, Verdade e Amor, e seu corpo existe como ideia eterna,
espiritual e harmoniosa, sujeita apenas às leis do Princípio, da Alma, do
Espírito, e é nosso privilégio, dever e responsabilidade conhecer esta verdade,
e a verdade libertará todos aqueles que se voltam para nós.
Como consciência individual, espiritual e
infinita, eu corporifico meu universo, corporifico ou incluo a ideia de corpo,
de casa, de atividade, de rendimento, saúde, riqueza e amizade, e estas estão sujeitas
apenas às leis espirituais e à vida. O corpo não age sozinho: ele é governado harmoniosamente
pelo poder espiritual. Quando o corpo parecer discordante, inativo,
superativo, instável ou aflito por dores, sempre há a ideia subjacente a isso
de que ele possa agir sozinho, que tenha o poder, por si, de se mover ou não,
de sofrer, de doer, de adoecer ou de morrer. E isto não é verdade. Ele não
dispõe de atividade ou inteligência próprias. Toda ação é espiritual, portanto,
ação boa e onipotente.
Quando reconhecemos esta verdade, o corpo responde ao conhecimento ou compreensão
da verdade. Nenhuma mudança ocorre no corpo, pois o erro nunca esteve nele. O
que muda completamente é o conceito de verdade que é, que foi e que sempre
será. Lembremos aqui de que não há nenhum "paciente externo", nenhum corpo fora daqui a ser
curado, melhorado ou corrigido. Trata-se sempre de uma falsa ideia ou crença no
pensamento do indivíduo que deve ser corrigida.
Quando começamos a compreender que o corpo não
age sozinho, que ele apenas responde aos estímulos da mente, podemos
desconsiderar as chamadas condições físicas desarmônicas e nos fixar apenas na
verdade de que a Vida sempre se expressa harmoniosamente, perfeitamente e
eternamente como a divina ideia de corpo.
A compreensão de que EU SOU consciência
espiritual, individual e infinita, que corporifica toda ideia correta e a
governa com harmonia, nos trará saúde, harmonia, lar, emprego, reconhecimento, paz, alegria e domínio. Compreender que isto é verdade para todos os indivíduos, desfaz a
ilusão de ódio, inimizade e hostilidade. E isto também faz de você um praticante,
um curador ou um mestre, mesmo que não faça desse trabalho uma profissão.
Passemos agora a encarar nossas superstições
ortodoxas, para delas nos livrarmos. Jesus foi enviado ao mundo para livrá-lo
do pecado, da doença ou da escravidão? Não, Deus, o Princípio infinito, a Vida, a Verdade
e o Amor não conhece o erro, o mal, o pecado nem o pecador. Jesus viu tão
claramente esta verdade que tal visão fez d'Ele o Salvador, o curador, o
mestre; e o mesmo poderá ocorrer conosco. A ação da Verdade na consciência
individual é o único Cristo. O Cristo nunca é uma pessoa. A ação da
Verdade na consciência individual constitui o único Cristo, sempre presente,
aquele que era "antes de Abraão". Esta atividade da Verdade dentro de
você é o seu Cristo. A ação da
Verdade na consciência de Buda revelou a natureza do pecado, da doença e da
morte como sendo ilusões ou miragem. Esta mesma ação de verdade na consciência
de Jesus Cristo revelou
a nulidade da matéria; desdobrou-se como consciência curadora, diante da qual desapareciam
o pecado e a doença, e a própria morte era vencida. Todo conceito errôneo, quer do corpo, do negócio,
da saúde ou da igreja, deve desaparecer na medida em que a ideia correta sobre isso
se instala na consciência individual e coletiva.
E que dizer da imaculada concepção, ou
nascimento espiritual? A imaculada concepção ou nascimento espiritual é o
alvorecer da ação da Verdade na consciência individual, ou a Cristo-Ideia. Apareceu
em Jesus como a revelação de que "Eu sou o caminho, a verdade e a vida...
eu sou a ressurreição e a vida... Aquele que me vê, vê Aquele que me
enviou". A ação da Verdade na minha consciência, o Cristo de meu ser, está
revelando que eu sou consciência espiritual individual, infinita, que
corporifica meu universo, incluindo meu corpo, minha saúde, prosperidade, meu
lar, minhas amizades, a eternidade e a imortalidade.
Deixemos que a ação da Verdade em nossa
consciência seja o primeiro e único objetivo, e nosso Cristo se nos revelará,
em seu modo individualizado.
Não existe o mal. Por
isso, paremos de resistir a uma discórdia específica, ou a uma desarmonia da
existência humana que se nos depara agora. Tal aparente discórdia desaparecerá assim
que formos capazes de abandonar a resistência contra ela. E nossa
capacidade de fazer isso está na proporção de nossa percepção da natureza
espiritual do Universo. E uma vez que isso é verdade, é evidente que nem o céu
nem a terra podem conter o erro de qualquer natureza; assim, o pensamento
humano não iluminado vê o erro bem ali onde Deus brilha, a discórdia ali onde
há harmonia, o ódio onde transborda amor e o medo onde de fato está a
confiança.
O trabalho em que nos envolvemos é a
conscientização de que somos consciência espiritual, infinita e individual, que
incorpora dentro de nós mesmos todo o bem. Este é o cântico que cantamos, o
sermão que pregamos, a lição que ensinamos e, até que nos venha a realização,
será nosso tema, nosso leitmotiv.
É o fio prateado da verdade que une todas as mensagens. Nada pode vir de fora
de nós; nada pode nos ser acrescentado. Já somos o vertedouro da consciência de
onde jorra o Infinito. Aquilo que recebe o nome de humano em nós deve ser aquietado,
para se tornar uma clara transparência através da qual nosso infinito Ser
individual possa aparecer, se expressar ou revelar.
Quando olhamos as cataratas do Niágara,
podemos até imaginar que, com tanta água a correr continuamente, venha a secar;
mas, se olharmos para além do quadro próximo, veremos o Lago Erie e
perceberemos que se trata de fato não de cataratas de Niágara, mas que este é o
nome dado ao Lago Erie no lugar onde se derrama no precipício formando a
cascata. A inesgotabilidade da cascata de Niágara é garantida pelo fato de que
sua origem, aquilo que constitui o Niágara, é na realidade o Lago Erie.
E assim é conosco. Nós somos o ponto onde
Deus se torna visível. Nós somos Deus-sendo o Verbo feito carne. Nossa fonte,
aquilo que nos constitui, é Deus — o Ser divino e infinito. Nós somos
Deus-sendo, Deus-aparecendo, Deus-se manifestando.
Conta a história que Marconi, quando ainda bem
jovem, estava seguro que seria aquele que daria ao mundo a comunicação sem fio,
e não os muitos cientistas mais velhos que o vinham tentando havia anos. Após
cumprir sua promessa, foi-lhe perguntado porque tinha tanta certeza de que
seria bem-sucedido. Ele respondeu que os demais cientistas estavam buscando
primeiramente um meio de vencer a resistência do ar às mensagens enviadas
através dele, enquanto ele já havia descoberto que não havia resistência
alguma.
O mundo combate uma força do mal, porém nós
descobrimos que não há tal força. Enquanto a matéria medica busca vencer ou curar as doenças e a teologia
luta para superar o pecado, nós aprendemos que não há realidade na doença e no
pecado, e as nossas assim chamadas curas se efetuam por causa desta compreensão.
Sabemos que existem estas aparências humanas
chamadas pecado e doença, mas também sabemos que por causa da natureza
espiritual infinita do nosso ser, pecado e doença não são realidades; não são o
poder do mal; elas não têm um princípio de sustentação; por isso, elas existem apenas
como irrealidades aceitas por reais, ilusões aceitas como fatos, a
interpretação errônea daquilo que de fato é.
Nós nos amarramos com a crença de que haja um
poder fora de nós mesmos — o poder do bem e do mal. Todo o poder foi dado a
nós. E este poder é sempre bom, por causa da Fonte infinita de onde emana. O reconhecimento deste grande fato nos traz
uma paz e uma alegria indizíveis, mas sentidas por todos aqueles que entram na
esfera de nosso pensamento. Isto nos torna amados. Traz o reconhecimento e a
recompensa. Garante-nos um lugar no coração dos homens e se torna a base de infindável
boa vontade.
Sempre que se defrontar com um problema,
independentemente de sua natureza, busque a solução dentro de sua própria
consciência. Em vez de correr de um lado para outro, de buscar uma resposta com
esta ou aquela pessoa, em vez de buscar a solução fora de si mesmo, volte-se
para dentro. Na quietude e no silêncio de sua própria mente, deixe que a
resposta para o problema brote por si mesma. Se fracassar uma, duas ou três
vezes, tendo se voltado para a paz de seu reino interior, em perceber a
resposta como um todo, tente de novo. Nunca será tarde demais, nem a solução
aparecerá tarde demais. Quando aprendemos a nos tornar dependentes deste meio
para lidar com nossos problemas e nossas experiências, nos tornamos cada vez
mais hábeis em reconhecer rapidamente a revelação da harmonia por parte de
nossa mente.
Por tempo demais buscamos nossa saúde, nossa
paz e prosperidade fora de nós mesmos. Voltemo-nos agora para dentro e
aprendamos que aqui, no reino de nossa consciência, nunca há fracasso ou
desapontamento; nem tampouco nos depararemos com delongas ou traições, sempre que
encontrarmos a calma de nossa própria Alma e a presença do Princípio que guia,
que protege e governa, e ampara cada passo de nossa jornada.
Não nos surpreendamos, pois, quando se nos
revelar a grande verdade de que nossa consciência é todo-poderosa e é o único
poder que atua nos nossos negócios, que controla e mantém nossa saúde, que nos
dá a percepção e a orientação necessárias ao nosso sucesso em todos os caminhos
da vida. Isso o espanta? Não é de admirar! Até agora acreditávamos que
houvesse, algures, um Poder deífico, uma Presença suprema que, se pudesse ser
encontrada, nos ajudaria, e até curaria nossos corpos de seus males.
Torna-se agora claro para nós que a
Deus-consciência é a própria consciência do indivíduo; é a onipotência e
onipresença que nunca nos deixará e nunca nos abandonará, mais próxima que nosso
próprio alento. Não precisamos
dirigir-lhe preces, fazer-lhe pedidos ou buscar de algum modo o seu favor:
basta-nos este reconhecimento, que leva à completa percepção desta verdade. A
partir de agora, podemos relaxar e sentir a segurança desta presença
constante e o poder desta consciência iluminada. Agora podemos dizer: "Não
temerei aquilo que um homem possa me fazer". Não mais recearemos condições
ou circunstâncias aparentemente externas ou fora do nosso controle. Sabemos agora que tudo o que possa se
tornar conhecido em nossa vida, ocorre de fato dentro de nossa consciência e,
por isso, sujeito a sua direção e controle.
Tampouco esqueceremos a profundidade do
sentimento que acompanha esta revelação dentro de nós, assim como o sentido de
confiança e coragem que imediatamente lhe vem a seguir. A vida já
não é uma sequência de eventos problemáticos,
mas uma jubilosa sucessão de fatos agradáveis. O fracasso é visto como o
resultado da crença universal em um poder externo a nós mesmos; enquanto o
sucesso seria a consequência natural de nossa percepção do infinito poder
interior.
O alívio do medo, das preocupações, da dúvida,
deixa-nos livres para atuarmos normalmente, de modo saudável e confiante. O
corpo reage imediatamente ao estímulo vindo do interior. Uma nova vitalidade,
resistência e harmonia física se seguem tão naturalmente como o repouso segue
ao sono. Bem pouco sabemos da vastidão de nossa riqueza interior até
conhecermos o reino de nossa própria consciência, o reino da Alma.
Quando,
em silêncio, nos adentramos ao templo de nosso ser para obter resposta a alguma
pergunta importante ou a solução de um problema vital, será melhor não
formularmos nenhuma ideia por nós mesmos, não traçarmos nenhum projeto nem
permitir que nossa vontade sobre o assunto gere nossos pensamentos. No lugar
disso, aquietemos o mais possível nossa mente "tagarela" e adotemos
uma atitude de escuta. Não será nossa mente pessoal ou mente consciente que nos
dará uma resposta, nem a mente educada e formada pelo nosso meio ambiente e
nossa vivência, e sim a Mente de Deus, a nossa Realidade, a Consciência
criativa. E esta é melhor ouvida quando os sentidos e a mente intelectual estão
calados.
Esta divina Consciência não só nos mostra a
solução de todo e qualquer problema e a direção correta a seguir em qualquer
situação mas, sendo infinita, é a consciência de todo indivíduo e faz convergir
todas as pessoas e circunstâncias para o bem de todos.
Obviamente não podemos esperar que esta
consciência universal atue em nosso favor e provoque perdas ou destruição para
outros. O que é conseguido dentro e através do reino de nossa mente é sempre
construtivo, quer individual, como coletivamente. Por isso nunca pode ser um
meio de prejuízo, perda ou injúria para os outros. E nós nem dirigimos nosso
pensamento para os outros, ou projetamo-lo para fora de nós em qualquer
direção. O que nossa mente estiver desdobrando para nós, estará, ao mesmo
tempo, operando como consciência de todos os envolvidos na ocasião. Nós nunca
precisamos nos preocupar em "encontrar" alguma outra mente ou
influenciar alguma pessoa. Lembremos de que a atividade da Consciência da qual
somos uma manifestação exerce sua influência sobre todos aqueles que podem
estar afetados ou envolvidos na situação ou no problema.
Não há problemas sem solução na Consciência, e
esta mesma Consciência, que é nossa consciência individual, é o único poder
necessário para estabelecer e manter a harmonia de tudo o que nos diz respeito. É o
nosso voltar para dentro que traz à luz as respostas que já existem. Nossa atitude
de escuta nos torna receptivos à presença e ao poder dentro de nós. Nossos
períodos de silente contemplação revelam a força infinita e a energia
construtiva, a direção inteligente que sempre habita em nós. Descobrimos, pois,
em nosso reino mental, nossa Lâmpada de Aladim. Em vez de esfregá-la e exprimir um desejo, nos voltamos para nosso
interior em silêncio e ouvimos — e tudo o que for necessário para o sucesso e a
harmonia da vida, flui em abundância; nós aprendemos a viver com alegria, saúde
e sucesso —, não em função de qualquer pessoa ou circunstância externa, mas por
causa da influência e da graça internas de nosso ser.
Já não há necessidade de tentar dominar nossos
sócios ou membros de nossa família. A lei interior mantém nossos direitos e
privilégios. Todo desejo bom de nosso coração é agora satisfeito sem conflitos,
sem medos ou dúvida. Quanto mais
aprendermos a relaxar e observar ligeiramente nossos desejos, mais rapidamente
e facilmente serão satisfeitos. Não nos é solicitado que
andemos sofrendo pela vida ou que lutemos sem descanso por algum bem desejado —
embora tenhamos falhado em perceber a presença de uma lei interior capaz de
determinar e manter nosso bem-estar material.
De início, pode nos parecer estranho perceber
que leis interiores governem eventos materiais — e pode parecer difícil, de
início, alcançar o estado de consciência em que tais leis do nosso ser profundo
se tornam expressões tangíveis. Nós o
alcançamos, contudo, na medida de nossa habilidade para relaxar mentalmente,
para atingir uma paz e uma calma interiores, e a partir disso contemplar
silenciosamente as revelações que nos vêm do nosso íntimo. A quietude e a
confiança logo nos trazem à presença da realidade e das verdadeiras leis que
nos governam.
Para que não surja em seu coração a pergunta
de como uma lei atuante em sua consciência, sem esforço volitivo ou direção,
possa afetar pessoas e circunstâncias externas, peço-lhe que observe o
resultado do reconhecimento das leis interiores e que verifique isto pela
observação.
Ainda teremos clara a percepção do fato de que
abarcamos nosso mundo dentro de nós mesmos; que tudo o que existe, pessoas,
lugares e coisas, vive apenas dentro de nossa própria consciência. Nunca
poderíamos ter consciência de algo fora do reino de nossa própria mente. E tudo
o que está dentro do nosso reino mental é alegre e harmoniosamente regido e
mantido pelas leis interiores. Nós não dirigimos ou forçamos estas leis: elas
operam eternamente dentro de nós e governam o mundo exterior.
A paz interior se torna harmonia exterior.
Assim que nosso pensamento assumir a natureza da liberdade interior, perderá o
sentimento de medo, de dúvida e de desencorajamento. Quando a
percepção de nosso domínio se fixa no
pensamento, tornam-se evidentes uma certeza maior, uma grande confiança e
firmeza. Tornamo-nos um novo ser, e o mundo reflete para nós este novo e mais alto
conceito que temos dele. Aos poucos, desenvolve-se dentro de nós uma nova
compreensão de nossos companheiros de jornada e de seus problemas, e brota de
nós mais amor, mais tolerância, mais cooperação, mais ajuda e compaixão. Notamos que o mundo responde a este novo conceito que
temos dele, e então todo o Universo vem a nós e deposita seus tesouros em
nossas mãos.
Muitos tratados e convênios alentadores têm
sido firmados entre homens e nações, e quase todos falharam, pois que nenhum
documento pode ser mais valioso que o caráter de quem o assina. Quando
estivermos envoltos pelo fogo de nosso ser interior, não precisaremos mais de
contratos e acordos escritos, pois fará parte de nossa natureza básica o ser
honesto, justo, inteligente e gentil — e estas qualidades são encontradas em
todos que vêm compartilhar nossa experiência no lar, no escritório, nas lojas e
em todos os caminhos da vida. O bem manifesto em nossa consciência volta a nós
numa "medida sacudida, cheia e transbordante".
Nesse novo estado de consciência, somos menos
aborrecidos com as ações dos outros, menos impacientes com suas insuficiências,
menos incomodados com seus erros. Do mesmo modo, em vez de sermos impedidos e
limitados por condições externas, nós não as defrontamos, mas passamos por elas
com quase nenhuma preocupação. Percebemos que algo dentro de nós rege nosso
universo; uma Presença interior mantém a harmonia exterior. A paz e a quietude
de nossa Alma são a lei da harmonia e do sucesso do nosso dia-a-dia.
Tudo o que nos ocorreu antes disso será uma
nulidade, se não percebermos que, acima de todo conhecimento da verdade,
devemos estar à sombra do Cristo.
Quando o Cristo penetra na consciência do
indivíduo, o sentido pessoal de "eu" perde vigor. O Cristo se torna
nosso ser verdadeiro. Não temos desejos, vontades ou poderes por nós mesmos. O Cristo
estende sua sombra sobre nossa individualidade. Por vezes, ainda percebemos em
nossa bagagem este sentido de finitude que tenta se reafirmar e mesmo dominar
uma situação. "Pois o bem que quero, não faço; e o mal que não quero, este
eu faço", disse Paulo.
Deixemos, pois, claro que o "eu"
pessoal não pode curar, ensinar ou dirigir com harmonia. Ele deve ser mantido
sob controle para que o Cristo possa ter o completo domínio sobre nossa consciência.
O trabalho que é feito com a "letra da
verdade", com declarações e os chamados tratamentos, é insignificante se
comparado com aquele conseguido quando rendemos nossa vontade e nosso agir ao
Cristo.
O Cristo se torna mais claro à nossa
consciência naqueles momentos em que nos deparamos com problemas para os quais
não temos resposta, e não temos poder para superá-los; percebemos aí que
"eu, por mim mesmo, nada posso fazer". Nesses momentos de
auto-anulação, o Cristo docemente estende sua sombra sobre nós, permeia nossa
consciência e traz a "paz, sê quieto", ó mente atribulada.
No Cristo encontramos o repouso, a paz, o
conforto e a cura. O poder natural do sentido espiritual nos invade, e a
discórdia e a desarmonia se esvaem, como a escuridão desaparece com a chegada da
luz. De fato, isto só é comparável com o alvorecer; o influxo gradual de Luz
divina clareia e dá cor à cena em nossa mente, e desfaz uma a uma as ilusões
dos sentidos, os recantos mais escuros do pensamento humano.
A faina do dia-a-dia quer nos subtrair este
grande Espírito, até que tenhamos o cuidado de nos recolher com frequência ao
santuário do nosso ser interior, e ali deixar que o Cristo seja nosso hóspede
de honra.
Nunca permita que conceitos vãos ou crença em
poder pessoal o afaste desta experiência sagrada. Esteja pronto. Fique
receptivo. Aquiete-se.
Próximo è Capitulo IX - O suprimento, Parte 01
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