C A P Í T U L O V I
A meditação
Meditar significa: "fixar a mente em"; "pensar em algo
ininterruptamente"; "contemplar"; "envolver-se em reflexão
contínua e contemplativa"; "deixar-se ficar mentalmente em alguma
coisa"; "remoer";
"cogitar".
Em linguagem espiritual, meditação é oração. A oração verdadeira, ou meditação, não é pensamento
voltado para nós mesmos ou para nossos problemas; é antes a contemplação de
Deus e de Suas obras, da natureza de Deus e do mundo que Deus criou.
Todo mundo deveria reservar algum tempo,
diariamente, para se recolher a um canto quieto e meditar. Durante este período
deveria voltar seu pensamento para Deus, ponderar a sua compreensão de Deus e
buscar uma compreensão mais profunda da natureza do Espírito e de Suas formas.
Deveria tomar o cuidado de não levar para o estado meditativo problemas seus ou
de outros. Este é um momento especial, à parte, dedicado e consagrado à
reflexão sobre Deus e Seu universo.
Deus é a Alma e a Mente de todos os indivíduos
e, por isso, é possível a todos nós sintonizarmos com o reino de Deus, receber
as divinas mensagens e promessas e os benefícios do Amor infinito. A Graça de
Deus que recebemos nestes momentos de meditação ou oração se nos torna tangível
na forma de preenchimento das chamadas necessidades humanas. Se, porém, nós não
abrirmos a nossa consciência para recebermos a compreensão espiritual, não
teremos de ficar surpresos se não experimentarmos nenhum bem espiritual na vida
cotidiana. E não há
outro caminho para abrirmos nossa consciência para o reino da Alma a não ser
pela meditação ou oração, através da contemplação das coisas de Deus. "Tu
manterás em perfeita paz aquele cuja mente está fixada em ti."
Durante o dia todo, nossos pensamentos estão
voltados para as atividades da vivência humana, nos cuidados e deveres para com
a família, nos ganhos necessários ao sustento, nos negócios sociais e
comunitários e, por vezes, até nos grandes negócios de Estado. Não é pois natural que durante o dia ou ao
anoitecer nos disponhamos a nos retirar por um tempinho para as profundezas de
nossa consciência, que é o Templo
de Deus, e aqui
nos envolvermos com as coisas de Deus? E, acima de tudo, temos
de desenvolver o sentido de receptividade, de modo a nos tornarmos sempre mais
cientes da presença real de Deus em Seu templo sagrado, que é a nossa consciência.
No lugar secreto do Altíssimo, do
Santo dos Santos, que é a nossa própria consciência profunda, nós recebemos a iluminação, a direção, a
sabedoria e o poder espiritual. "Na confiança e na quietude estará vossa
força."
Quando aprendemos a ouvir a "pequena voz
silenciosa", o Espírito de Deus abre nossa consciência para o
reconhecimento imediato do bem espiritual. Somos então preenchidos com as divinas
energias do Espírito, iluminados pela luz da Alma; recebemos o refrigério das
águas da Vida e alimentados pelo pão que não perece. Este alimento espiritual
nunca é negado àqueles que aprendem a encontrar Deus no templo de seu ser.
Para recebermos a Graça de Deus, devemos nos
retirar do mundo dos sentidos, aprender a silenciar os sentidos materiais e nos
encontrarmos com Deus. Deus deve se tornar, para nós, uma realidade viva,
uma divina presença, o Espírito Santo em nosso ser; e tudo isso só pode nos acontecer
quando tivermos aprendido a meditar, a orar e a contemplar Deus.
Pela meditação, nos tornamos conscientes da
presença do Cristo, e esta percepção permanece conosco durante todo o dia e a
noite toda, mesmo que estejamos lidando com as coisas de nossa existência
humana. Esta percepção permeia toda nossa experiência e faz prosperar todos
nossos empenhos. Esta consciência do Cristo é a luz para os nossos passos e uma
estrela guia para nossas aspirações. É a Presença que caminha à nossa frente e
aplana nossos caminhos. É uma qualidade em nós que nos torna compreendidos e
apreciados pelos nossos semelhantes.
Ao acordar pela manhã, e de preferência antes
de sair da cama, volte seus pensamentos à conscientização de que "Eu e o Pai somos um... Filho...
tudo que tenho é teu... O lugar onde estás é solo sagrado"; e deixe então que o significado disso se
desdobre de dentro de sua própria consciência. Alcance a convicção de sua
unidade com o Pai, com a Vida universal, com a Consciência universal. Sinta a
infinitude do bem dentro de você, que é a evidência da sua unidade com a
infinita Fonte de seu próprio ser.
Tão logo sinta uma emoção, um estado de paz
profunda ou uma onda de Vida divina, levante-se e faça os preparativos físicos
para o seu dia. Antes de sair de casa, sente e pondere sobre sua unidade com
Deus. A onda é uma com o oceano, indivisível e inseparável do oceano como um todo.
Tudo o que o oceano é, a onda é; e todo o poder, a energia, toda a força, toda
a vida e substância do oceano estão expressas em cada onda. A onda atinge tudo
o que está sob si mesma, pois que a onda é de fato o oceano, assim como o
oceano é a onda, uno, inseparável, indivisível. Notemos aqui um ponto importante:
não há um lugar onde uma onda termine e outra onda comece, de modo que a
unidade da onda com o oceano subentende a unidade de uma onda com a outra.
Do mesmo modo que a onda é una com o mar, assim
somos um com Deus. Nossa unidade com a Vida universal constitui nossa unidade
com cada expressão individual desta Vida; a unidade com a divina Consciência é
a unidade com cada concepção desta Consciência. Assim como a infinitude de Deus
brota através de você para abençoar todos aqueles com quem se relaciona, lembre-se
de que também transborda de todos os outros indivíduos sobre você. Ninguém compartilha
com você qualquer coisa que seja seu mesmo, pois tudo o que tem é do Pai; assim
também tudo o que você tem é do Pai, e você o compartilha com o mundo. Você é
um com o Pai, com a Consciência universal, e é também um com cada ideia
espiritual abarcada por esta Consciência.
Se pudermos apanhá-la, esta é uma ideia
poderosa. Significa que o que é do seu interesse o é também para todos os
indivíduos do mundo; significa que aquilo que é interesse dos outros o é também
para você; significa que não temos interesses separados uns dos outros e mesmo
que não temos interesses separados dos de Deus; significa de fato que tudo o
que o Pai tem é também nosso e tudo o que nós temos é para o benefício de
todos, e o que os outros têm é também para nosso benefício, é tudo isso para a
glória de Deus.
Esta ideia deve desdobrar-se dentro de nós de
maneira própria. Deve, aos poucos, dia após dia, assumir formas diferentes, e
sempre com significado maior por causa da infinitude da Consciência. Pode
observar como uma árvore tem muitos ramos, e como cada ramo é um com o tronco
e, por isso, é um com a raiz, e a raiz da árvore é uma com a terra, e retira
dela tudo o que a terra tem a oferecer, e, além disso, que cada ramo não só é
um com a árvore toda, mas também com cada outro ramo, como partes interligadas
do todo.
Ao ponderarmos esta ideia de nossa unidade com
Deus e com cada conceito individual do espírito, surgirão em nós novas ideias,
novas imagens e símbolos originais. Terminando esta meditação matinal,
acharemos que sentimos realmente a presença de Deus dentro de nós; sentiremos
de fato a divina energia do Espírito; sentiremos surgir uma vida nova dentro de
nós; e isso nos levará ainda a outros pensamentos. Sempre que vamos de um lugar
para outro, como quando deixamos nossa casa para ir ao trabalho, ou do trabalho
para ir à Igreja, ou desta para voltar para casa, paremos por uns momentos para
perceber que a Presença andou à nossa frente para preparar o caminho, e que
esta mesma Presença divina ficou atrás de nós como uma bênção para todos que
passam pelo mesmo caminho. No início, poderemos esquecer de fazer isso diversas
vezes ao dia, mas, exercitando nossa memória, isso se tornará provavelmente uma
atividade habitual em nossa consciência, e então não mais caminharemos sem
sentir a divina Presença sobre e atrás de nós, e assim nós seremos a luz do mundo.
Um dos assuntos que mais nos preocupa nestes
últimos anos é a paz, embora tenhamos bem pouca esperança numa paz duradoura
baseada em qualquer documento ou organização humanos. Realmente, estes têm um
propósito e são uma etapa necessária para os seres humanos, assim como os Dez
Mandamentos foram uma etapa necessária até que fossem substituídos pelo Sermão
da Montanha com sua visão superior. Nós não precisamos dos Dez Mandamentos,
pois nós não precisamos de exortações para não roubar, mentir ou fraudar, nem
precisamos de ameaças de punição para nos mantermos honestos, limpos e puros;
no entanto, os Dez Mandamentos são necessários para aqueles que ainda não
aprenderam a justiça como fim a si mesma.
Do mesmo modo, o mundo está grandemente
necessitado de algum tipo de organização ou documento humanos para manter
alguma forma ou alguma medida de paz no mundo. Mas a paz verdadeira,
definitiva, só virá como veio para cada um de nós individualmente, pela
percepção de que não precisamos de qualquer coisa que outros tenham e, por
isso, não há motivos para guerrear. Tudo o que o Pai tem é nosso. Que mais
poderíamos querer além disso? De fato, como co-herdeiros de Deus com Cristo,
poderíamos alimentar cinco mil a cada dia, sem sequer nos preocuparmos de onde
o alimento viria.
Quando toda a humanidade atingir esta
consciência de sua verdadeira identidade, não mais haverá guerras, competição,
conflitos. Ganhando a plena consciência de nossa verdadeira identidade, o
demonstraremos por um maior senso de harmonia, de saúde e sucesso, e atrairemos
a nós, um a um, os que buscam o mesmo caminho. Desse modo, todos os homens
serão por fim conduzidos ao reino dos céus.
Próximo è Capitulo VII - A oração
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