C A P Í T U L O V I I
A oração
“Vos pedis, e nada recebeis, pois pedis mal", disse o
Apóstolo Tiago. Já se deram conta de que, por algum tempo, oraram e não
obtiveram resposta às suas orações? "Pedis errado." Esta é a razão.
A oração, baseada na crença de que há uma
necessidade ou um desejo insatisfeitos, nunca será consoante com a verdadeira
oração científica. Uma oração para que Deus faça alguma coisa, mande ou
forneça algo, ou cure alguém, não tem nenhum poder. Cremos, por vezes, que Deus precise de um
canal através do qual venha a satisfazer nossos pedidos, e isso nos leva a
procurar as respostas fora de nós mesmos. Podemos pensar que o suprimento possa
vir até nós e, por isso, ficarmos aguardando por uma pessoa ou por uma condição
através da qual isso aconteça; ou podemos depender de um curador, ou de um
mestre, como canal de cura. "Pedis
mal."
Qualquer ideia de que aquilo que buscamos esteja
em algum lugar que não dentro de nós, dentro de nossa própria consciência, é a
barreira que nos separa de nossa harmonia.
A
oração verdadeira nunca é dirigida a um Ser fora de nós mesmos, e tampouco
espera por algo vindo de fora do nosso ser. "O reino de Deus está dentro de vós", e
todo o bem deve ser procurado ali. Se reconhecemos que Deus é a realidade do
nosso ser, entendemos que todo o bem é inerente a esse Ser, o seu e o meu ser.
Deus é a substância do nosso ser e, por isso, nós somos eternos e harmoniosos.
Deus é a Vida, e esta Vida é auto-sustentada. Ele é nossa Alma, e nós somos puros
e imortais. Deus é a consciência do indivíduo, e isto constitui a inteligência
do nosso ser.
Para sermos precisos, não há Deus e você,
embora Deus sempre se manifeste como você, e esta é a unidade que nos
assegura o bem infinito. Deus é a vida, a mente, o corpo e a substância do ser
individual; por isso, nada pode ser acrescentado ao indivíduo, e a oração
verdadeira é o reconhecimento constante desta verdade.
A
conscientização do nosso verdadeiro ser — da natureza e caráter infinitos do
nosso próprio ser — também
é oração. Nesse estado de
consciência, em vez de buscar, pedir e esperar algo da prece, voltamos nosso
pensamento para dentro e ouvimos a "pequena voz silenciosa" que nos assevera
de que, mesmo antes que pedíssemos, nosso Pai conhecia e preenchia nossa
necessidade. E aí está o grande segredo da oração: Deus é a Totalidade e é
sempre manifesto. Não há pois um bem ou Deus imanifestos. O que cogitamos estar buscando, está
sempre presente dentro de nós, já manifesto, e nós temos de ter em mente esta
verdade. Todo o bem já é, e é para sempre manifesto. O reconhecimento desta verdade é a oração atendida.
Nossa saúde, prosperidade, emprego, lar
e harmonia não são pois dependentes de algum Deus longínquo; nunca dependem de
um canal, pessoa ou lugar, mas estão continuamente à mão, onipresentes, dentro
de nossa própria consciência; e o reconhecimento deste fato é a oração atendida.
"Eu e o Pai somos um", e isto é causa de perfeição do ser individual.
Para sermos precisos, não há Deus e tu. É
impossível orar corretamente sem ter compreendido esta verdade; e sem
conhecermos nossa relação com a Divindade, nossa oração seria apenas uma fé cega
ou crença, e não compreensão. É a
nossa conscientização da unidade do Ser — a unidade da Vida, da Verdade e do
Amor — que redunda em oração atendida. É o
reconhecimento constante de nossa vida, nossa mente, nossa substância e ação
como manifestações do Ser divino que constitui a verdadeira oração. Identificando este Ser divino como única
realidade de nosso ser individual, podemos compreender a nós mesmos como uma
realização de Deus, como arremate e perfeição do ser que tudo abrange, divino e
imortal. O
reconhecimento da divindade de nosso ser individual é a verdadeira prece, que é
sempre ouvida. A retificação da falsa
crença que sejamos separados e distantes do nosso bem é a essência da prece
verdadeira. Aquilo que eu busco, eu sou. Qualquer: bem que eu possa ter
acreditado ser separado de mim, é de fato uma parte constituinte do meu ser.
Eu incluo, personifico
e envolvo dentro da minha própria consciência profunda a realidade de Deus,
que constitui a infinitude da saúde, da prosperidade e da harmonia do meu
ser. A conscientização desta verdade é a verdadeira prece.
Apesar desta totalidade
de Deus, expressa como seres individuais perfeitos, aparecem constantemente
na vida humana aqueles males que solicitam nossa compreensão da prece. Qual é
a natureza do erro, do pecado, da doença? Como pode haver tais coisas, sendo
Deus a totalidade? Tais coisas não podem ser, e de fato não são, apesar das
aparências de dor, de discórdia e de sofrimento.
A Bíblia nos revela a
verdade básica do ser, ou seja, que "Deus viu tudo o que tinha feito, e
viu que era muito bom". Nesta perfeição que Deus criou, não há
"profanação" ou algo que seja mentira; e não há outro Princípio
criador. Torna-se assim claro que aquilo que tem a aparência de erro, de
pecado, doença, dor e discórdia não passa de ilusão, de miragem, nada.
Lembremos então, na nossa prece, que Deus criou tudo o que foi feito, e neste
universo de Deus existe apenas a Presença Total, o Poder Total de Deus, o
Amor divino e, por isso, aquilo que agora nos parece erro é uma falsa
representação da realidade.
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O tempo virá, em nossa vida, em que a
inspiração espiritual revele à consciência individual um estado de ser livre
das crenças e condições mortais. Não mais então viveremos uma existência baseada
em afirmações ou negações mentais e, no lugar disso, receberemos de nossa
Consciência um constante desdobramento da verdade. Por vezes isso nos vem do
canal de nosso próprio pensamento. Pode nos vir através de um livro, uma
leitura ou um serviço solicitado pela divina Consciência. E apesar de parecer que isto nos possa vir por um canal, é a divina
Consciência que se revela à consciência individual.
Na medida em que nos tornamos mais e mais
conscientes de nossa unidade com o Universo, com o Cristo cósmico, qualquer
desejo ou necessidade que se nos apresente traz consigo o seu preenchimento de
pensamentos e desejos justos. E não está pois claro que nossa unidade com a Consciência,
tendo sido estabelecida desde o "começo" pela eterna relação entre
Deus e Seu ser manifesto, não custou nenhum esforço consciente para existir e
ser mantida? A percepção desta verdade é o elo que nos liga à divina
Consciência.
Para muitos, orar significa pedir e suplicar a
um Deus que mora em um lugar chamado céu. O fato porém deste tipo de oração
resultar em fracasso universal na obtenção de seus fins, prova que isto não é
uma prece verdadeira, e que o Deus a quem suplicam não está lá para ouvir. A
reflexão dos homens percebeu eventualmente a falta de resposta para tais
orações, e se voltou para a busca do Deus verdadeiro e da ideia correta de
prece. Isto levou à revelação da verdade como praticada e compreendida por
Cristo Jesus e muitos reveladores antigos.
Neste ponto entendemos que "o reino de
Deus está dentro de vós" e, por isso, a prece deve ser dirigida para
dentro, para o ponto da consciência em que a Vida universal, Deus, se individualizou
como você e eu. Aprendemos que Deus criou (originou) o mundo no princípio e que
isto "era bom".
Sendo "bom", o Universo deve
ser inevitavelmente completo, harmonioso e perfeito; assim, nossa prece, no
lugar de suplicar por algum bem, se torna a percepção da onipresença do bem, e este
conceito mais elevado faz da oração a afirmação do bem e a negação da
existência do erro como realidade.
Quando a prece, mesmo afirmativa, resulta do
uso de fórmulas, há a tendência a voltar para o velho modelo de reza de fé, e
com isso a prece perde sua força. Quando,
contudo, a prece consiste de uma sincera e espontânea afirmação da infinitude
de Deus, e da harmonia e perfeição de Sua manifestação, está de fato próxima da
oração absoluta, que é a comunhão com Deus.
Antes que recebêssemos o clarão da verdade,
orávamos por coisas ou pessoas; em outras palavras, lutávamos por atingir algum
fim pessoal. Em sua grande visão, Emerson
escreveu: "A
oração que anseia por uma vantagem particular, algo menor que o bem total, é
viciosa". E, então, este homem
sábio deixa-nos a definição: "A oração é a contemplação das coisas da vida
do mais alto ponto de vista. É o solilóquio da alma contemplativa e jubilosa. É
o Espírito de Deus proclamando alto Seu trabalho... Tão logo o homem seja um com Deus, ele nada pedirá". A prece não deve ser entendida como um
voltar-se para Deus para alguma coisa, pois, como completa Emerson "A
prece como meio de atingir fins particulares é sem significado, é um
roubo".
Agora sabemos o que a prece não é, e tivemos
um vislumbre de que a prece é a união do nosso Eu, da Alma individual, com
Deus, a Alma universal. Na verdade, a Alma individual e a Alma universal não
são duas, mas uma só, e a conscientização desta verdade constitui a união ou unidade,
que é a verdadeira prece.
Jesus disse "Meu reino não é deste
mundo", e temos de lembrar disso quando oramos. Voltarmo-nos para Deus
levando algum pedido ou desejo deste mundo, será infrutífero. Quando adentramos
no nosso santuário do Espírito, temos de deixar de fora todos os desejos, as necessidades
e carências terrenas. Temos de deixar "este mundo" e nos encaminhar
para Deus com apenas uma ideia — a comunhão com Deus, a união, a unidade com
Deus. Não devemos orar para obter qualquer coisa, ou para mudar ou corrigir
algo.
A oração, que é união consciente com Deus,
sempre redunda em harmonia, paz, contentamento e sucesso. Estas são as coisas
"dadas de acréscimo". Não é que o
Espírito produza, corrija ou cure a matéria ou o universo físico, mas ocorre
que nós nos elevamos para um grau de consciência mais alto, onde há menos
matéria e, por isso, menos discórdia, menos desarmonia, doença ou carência.
A comunhão com Deus é a verdadeira oração. É o
desenvolvimento, na consciência individual, de Sua presença e poder, e isto nos
torna "todos completos". A comunhão com Deus é na realidade ouvir a
"pequena voz silenciosa". Nesta comunhão, ou oração, não proferimos
palavras para Deus, mas a conscientização da presença de Deus é uma comunicação
da verdade e do amor que vem de Deus até nós. É um estado de ser abençoado, que
jamais nos deixa no ponto em que nos encontrou.
Próximo è Capitulo VIII - A cura metafisica
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