Capitulo II - Iluminação espiritual


C A P Í T U L O I I
Iluminação espiritual

A iluminação espiritual nos capacita discernir a verdade espiritual quando se nos apresenta um conceito meramente humano. A consciência espiritual reconhece a verdade naquilo que aparece como um conceito.

O desenvolvimento da consciência espiritual começa quando, pela primeira vez, percebemos que aquilo que apreendemos através dos sentidos da visão, da audição, do olfato, do tato e do paladar não é a realidade das coisas. Retirando por completo a atenção das aparências, o primeiro raio da iluminação espiritual nos traz um fulgor do divino, do eterno e do imortal. Isso, por sua vez, torna as aparências menos reais para nós, tornando-nos assim mais receptivos à iluminação.

Nosso progresso rumo ao Espírito ocorre na medida da nossa iluminação, o que nos capacita apreender cada vez mais a Verdade. O enfoque usual da vida se deve a uma interpretação errônea, devida à falsa percepção das coisas; por isso devemos abandonar qualquer intenção de curar, corrigir ou mudar o cenário material para que possamos ver a Verdade nele oculta.

A iluminação espiritual começa a nos ser concedida quando da primeira busca da Verdade de nossa parte. Acreditamos estar procurando o bem e a Verdade; contudo, foi à luz que começou a brilhar em nossa consciência e nos impeliu a dar aqueles primeiros passos.

Todo aumento de nossa compreensão espiritual representa mais luz para nós, que expulsa as trevas dos sentidos. Este fluxo de iluminação continuará até que tenhamos compreendido por inteiro que a nossa verdadeira identidade é a "luz do mundo". Sem a iluminação, lutamos contra as forças do mundo, trabalhamos para viver, nos esforçamos para manter nossa posição e competimos por riquezas e honrarias. Muitas vezes lutamos contra nossos amigos, para acabarmos percebendo que lutamos contra nós mesmos. Não há segurança nas posses materiais, mesmo que tenhamos vencido
a luta pela sua obtenção.

A iluminação nos traz primeiro a paz, e depois a confiança e a segurança; isto nos dá repouso das contendas do mundo, e então todo o bem flui para nós pela Graça. Podemos agora perceber que não vivemos pelo que ganhamos ou conquistamos; vivemos, sim, pela Graça.

Tudo que temos é dádiva de Deus; nós não ganhamos o nosso bem, pois que já o possuímos. "Filho, tu estás sempre comigo, e tudo que tenho é teu."

Os prazeres e os sucessos do mundo nada são se comparados com as alegrias e os tesouros que se desdobram diante de nós pela consciência espiritual. À luz da Verdade, os maiores triunfos e felicidades mundanas são como nada, diante dos tesouros da Alma e sua imensa glória, insondável e desconhecida pelos sentidos.

Possuindo a Luz divina dentro de si, ganha o homem sua liberdade do mundo, e a segurança contra todos os perigos terrestres e humanos. Nosso momento histórico tem amedrontado e assustado a muitos. Os espiritualmente iluminados reconhecerão que nenhum bem aparece ou desaparece, que a atividade espiritual tem por natureza a realização, e que, como a sua iluminação lhes revelou a verdade dos fatos, eles estão ancorados à Alma, à consciência divina, à paz espiritual, à segurança e à serenidade.

Não mais temeremos as mudanças das condições exteriores, que não passam do reflexo da totalidade interior. Com a certeza de que somos consciência espiritual individual, embora infinita, e que incorpora todo o bem, não mais precisamos levar em consideração aquilo que os sentidos nos mostram.

A iluminação espiritual revela a harmonia do Ser e dispersa as aparências captadas pelos sentidos materiais. Ela nada muda no universo, pois que o universo é espiritual, habitado pelos filhos de Deus, mas muda nossa visão do universo.

Este é apenas o começo deste vasto tema, e enquanto discutimos a seu respeito, mantenhamos nosso pensamento o mais longe possível do mundo dos sentidos e ancorado à conscientização da realidade espiritual.

Sempre houve homens que trouxeram a divina mensagem da presença de Deus e da irrealidade do mal: Buda, na Índia, Lao-Tsé, na China, Jesus de Nazaré. Estes, e muitos outros, trouxeram a Luz da Verdade aos homens, e os homens sempre tomaram os mensageiros como se fossem a Luz, sem perceber que aqueles que pensavam ser alguém "exterior" eram a Luz da Verdade dentro de sua própria consciência.

Na adoração de Jesus, os homens perderam o Cristo. Na sua devoção a Jesus, não perceberam o Cristo; procurando o bem através de Jesus, não encontraram o Cristo onipresente em sua própria consciência.

Em todos os casos, o mensageiro que apareceu aos homens foi a vinda do Cristo à consciência individual, e quando isto for compreendido o homem terá alcançado a libertação do conceito de "pessoa" e de limitação pessoal. [Cristo significa redentor, messias. Do latim “Christu”, derivado do grego “Khristós”, que significa “ungido”, que por sua vez deriva do hebraico “Mashiach” que significa “Messias”]

Jesus disse "... se eu não for, o Consolador não virá até vós". Isso não ficou bastante claro, para que todos compreendessem? Se não pudermos ver além do sentido pessoal de salvação, de mediação e guia, nunca encontraremos a grande Luz dentro de nossa própria consciência.

A iluminação espiritual não vem de uma pessoa, mas do Cristo impessoal, da Verdade universal, da consciência iluminada do nosso Eu.

A iluminação espiritual dispersa a visão do "eu pessoal" com seus problemas, doenças, idades e erros. Revela o Eu verdadeiro, o Eu que Eu Sou, ilimitado, irrestrito, sem problemas, harmonioso e livre. Este Eu em nós nos será revelado quando nos recolhermos dentro de nós mesmos diariamente e aprendermos a "ouvir" e a observar. Assim, em vez de ficarmos ansiosos sobre o trabalho do dia, ou sobre os eventos futuros, deixemos que a Alma, ou Espírito divino, vá à nossa frente aplanando e preparando o caminho, e deixemos que esta influência divina permaneça à nossa retaguarda, salvaguardando cada passo das ilusões dos sentidos.

A consciência iluminada sempre sabe que existe uma Presença infinita, todo-poderosa, que faz prosperar todos os atos e que abençoa todos os pensamentos. Sabe que todos aqueles que cruzam o nosso caminho sentem a bênção do nosso pensamento.

Quando a consciência está inflamada com a Verdade e o Amor, destrói todo sentido de medo, toda dúvida, todo ódio, inveja, doença e discórdia — e esta pura consciência é percebida por todos a quem encontramos, e lhes alivia os fardos. É impossível ser a "luz do mundo" e não desfazer as trevas dos que nos rodeiam.

Reconheçamos que todo o bem que vivenciamos emana de nossa própria consciência, mesmo que nos pareça vir de ou através de outro indivíduo. Reconheçamos que toda aparência de mal é uma percepção falseada da harmonia, e por isso não é para ser temida ou odiada; e, como resultado, a ilusão desaparecerá e a realidade se tornará clara. Apenas a consciência iluminada pode olhar para as aparências de mal e perceber a realidade divina. Somente o Cristo em nossa consciência pode separar o erro da sua aparente realidade e retirar-lhe os espinhos.

A iluminação espiritual nos revela que não somos mortais — nem mesmo seres humanos —, mas que somos puro ser espiritual, consciência divina, vida que se auto sustenta, mente oniabrangente. E esta luz desfaz as ilusões do sentido pessoal.

A iluminação desfaz todas as amarras materiais e une os homens uns aos outros com as douradas correntes da compreensão; ela só reconhece a liderança do Cristo.

Não há rituais ou regras: somente o divino e impessoal Amor universal; não tem outro culto que não a chama interior que fulgura eternamente no santuário do Espírito.

Esta união é um estado de livre fraternidade. A única limitação é a disciplina da Alma, e assim conhecemos a liberdade sem licenciosidade; somos um universo coeso sem limites físicos, um serviço divino a Deus sem cerimonial ou credo.

O iluminado caminha sem medo — pela Graça.

Sabemos que somos a realização de Deus, somos a condição de consciência onde emana a Luz de Deus, e isto é ter a mente espiritual. A percepção que em cada indivíduo há a presença de Deus, e que tudo o que ele é, é uma aparência de Deus, é a consciência espiritual. A compreensão que tudo o que vemos, ouvimos, tocamos, cheiramos ou saboreamos com nossos sentidos não passa de um conceito finito de realidade e que não tem relação com a realidade espiritual, é sentido espiritual.

O Cristo-consciência reconhece Deus onde quer que brilhe, através da bruma do sentido pessoal. Para ela não há pecador a se redimir, doença a se curar ou pobre para se enriquecer. A iluminação espiritual desfaz os falsos conceitos ou imagens da limitada percepção, e revela que tudo que existe é manifestação de Deus.

A Luz da consciência individual revela o mundo da criação de Deus, o universo da realidade, os filhos de Deus. Sob esta Luz, desaparece o cenário da mortalidade e o mundo de conceitos; "este mundo", cede lugar ao Meu Reino, à realidade das coisas como elas são.

Temos também com frequência a sensação de, no nosso íntimo, temos companhia. Sentimos um calor interior, uma presença viva, uma segurança divina. Sentimos, por vezes, uma mão forte sobre as nossas, ou uma face sorridente por sobre nossos ombros. Nunca estamos sós, e sabemos disso. Esta Presença suave nos dá tranquilidade interior; permite-nos relaxar das labutas do mundo e nos brinda com a alegria da paz. Na verdade trata-se de um "paz, sê quieto" frente aos problemas e tensões do humano existir. É uma influência reparadora dentro de nós, e todavia pode ser percebida por todos que estão à nossa volta.

Esta Presença interior da qual tomamos consciência é a Verdade em si mesma, que se nos revela como presença, poder, companhia, luz, paz e poder curador — como o Cristo. A consciência deste Ser interior é o resultado de nossa maior iluminação espiritual, de nossa consciência espiritual cultivada. Esta Verdade é o Deus que cura nossos males e que caminha à nossa frente tornando suaves nossos caminhos. Esta Verdade é a riqueza que se mostra sob a forma de suprimento farto. Nenhuma circunstância ou humana condição pode reduzir a nossa riqueza, enquanto habitarmos nesta consciência da presença do Amor.

Estabeleça esta verdade dentro de você, e ela se tornará o seu verdadeiro ser, sem conhecimento de nascimento ou de morte, juventude ou velhice, saúde ou doença — apenas a eternidade do ser harmônico. Esta verdade desfaz todas as ilusões dos sentidos, e revela a infinita harmonia do seu ser; desfaz a mortalidade e revela sua imortalidade. Devemos nos livrar de qualquer coisa, em nossos pensamentos, que não seja a divina Presença, o Eu Real, para podermos beber a pura água da Vida e comermos o pão espiritual da Verdade.

Temos de livrar o coração dos erros do nosso eu, da obstinação, dos falsos desejos, da ambição e da ganância para refletir a luz da Verdade, como um diamante perfeito reflete sua própria luz interior.

Cerca de quinhentos anos antes de Cristo, alguém escreveu: "Pode facilmente acontecer que alguém, tomando banho, pise em uma corda molhada e imagine tratar-se de uma serpente. Ficará horrorizado, tremerá de medo ao antecipar, em pensamento, as agonias causadas pela mordida venenosa da cobra. Que grande alívio sentirá ao constatar que a corda não é uma serpente! A causa do seu pavor estava em seu erro, em sua ignorância, sua ilusão. Reconhecendo a verdadeira natureza da corda, voltará sua serenidade; ficará aliviado, contente e feliz. Este é o estado de 24 espírito de quem descobre que não há um eu pessoal, e que a causa de todos os seus problemas, cuidados e vaidades, não é senão uma miragem, uma sombra, um sonho".

Reafirmamos, a iluminação revela que não existe o erro, que aquilo que nos pareceu ser a serpente — pecado, discórdia, doença e morte — é a Verdade mal interpretada pelos nossos sentidos limitados. Assim, a discórdia não é para ser odiada, temida ou lamentada, e simreinterpretada, até que a natureza verdadeira da corda — a realidade — possa ser discernida pelos sentidos espirituais. A cobra — doença ou discórdia — é apenas um estado mental, que não corresponde à realidade exterior. Devemos compreender que nenhuma ilusão pode assumir forma exterior.

A iluminação espiritual pode ser alcançada por aqueles que constantemente vivenciam a consciência da presença da perfeição, e continuamente traduzem as aparências para a Realidade. Todos os dias e noites nos defrontamos com aparências desarmoniosas, e estas devem ser imediatamente traduzidas pela nossa compreensão da "nova língua", a linguagem do espírito.

Todos os acontecimentos do nosso dia-a-dia nos oferecem novas oportunidades de usarmos nossa compreensão espiritual, e cada uso dessas faculdades espirituais resulta em maior percepção espiritual que, por sua vez, nos revela sempre mais e mais da luz da Verdade.

"Orai sem cessar... e conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará."

Reinterprete as aparências e os fatos da vida diária nos termos da nova língua, a língua do espírito, e a consciência sofrerá uma expansão contínua, até que a tradução ocorra automaticamente, sem a necessidade de se pensar.

Isto tornar-se-á um estado habitual de consciência, uma percepção constante da Verdade. Só desse modo poderemos ver nossa vida se desdobrar com harmonia a partir do centro do nosso ser, sem que para isto precisemos conduzir qualquer pensamento. Nossa vida, em vez de ser uma sequência de "demonstrações", tornar-se-á o feliz, harmonioso e natural desdobramento do bem. No lugar dos contínuos esforços para atrair o bem, vê-lo-emos emanar visivelmente a partir das profundezas do nosso próprio ser sem esforço consciente de nossa parte, quer físico quer mental. Não mais dependeremos de pessoas ou circunstâncias, nem mesmo do nosso esforço pessoal. A iluminação espiritual nos permite abandonar os esforços pessoais e confiar cada vez mais na Divindade, que se revela e desdobra como cada um de nós.



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